Kristina Mascher-Turner: Como você descobriu a trompa e decidiu que queria tocá-la? Com quantos anos você começou a tocar?
Ranya Nashat: Descobri a trompa aos 9 anos na escola de música e balé em Bagdá, onde fui aluno. A política da escola era que eles escolhessem o que os alunos jogavam. Meu professor apareceu e me apresentou sua brilhante trompa francesa - fiquei hipnotizada pela cor. Meus pais eram contra o que chamavam de “instrumento de menino”. Eles queriam piano ou violino ou flauta, mas eu estava tão determinada a tocar a coisa nova e brilhante cujo nome eu não conseguia soletrar. A primeira vez que vi uma orquestra (Orquestra Sinfônica Nacional Iraquiana) foi em 2005. Vi e reconheci meu professor tocando. Quando saí do concerto, disse a mim mesmo, este é o meu lugar.
KMT: Quão comum é no Iraque que as mulheres toquem trompa e que as mulheres façam carreira na música em geral?
RN: Não é muito normal que as mulheres toquem trompa no Iraque - eu só tinha ouvido falar de uma outra antes de começar a tocar com a orquestra. Agora sou só eu, então é por isso que quando comecei a ensinar na escola de música e balé eu queria ensinar mais meninas do que meninos haha! A tentar iniciar o meu exército de miúdas de trompa. Sim, está tudo bem para as mulheres fazerem carreira na música, mas é um desafio. Temos 10 músicos do sexo feminino agora no INSO.
KMT: Você pode nos contar um pouco sobre a Orquestra Sinfônica Nacional Iraquiana? Quantos anos tem e como começou?
RN: A INSO é a orquestra mais antiga do mundo árabe. Foi fundada no final da década de 1940 por um grupo de músicos do Instituto de Belas Artes.
KMT: Você toca apenas música clássica ocidental ou também está envolvido em outros gêneros, como música folclórica tradicional ou música popular?
RN: Tocamos música tradicional iraquiana e música moderna composta por iraquianos, bem como música clássica.
KMT: Que outros trompistas/gravações influenciaram você?
RN: Costumo ouvir as trompas da Filarmônica de Berlim – Sarah Willis e Stefan Dohr, mas principalmente ouço tudo o que o YouTube oferece. Eu apenas coloco e ouço quando estou estudando ou fazendo tarefas domésticas ou apenas relaxando.
KMT: Os últimos anos foram incrivelmente difíceis para o seu país e para Bagdá em particular. Como manter a paz de espírito em meio ao conflito e à incerteza?
RN: Isso é difícil de descrever. Já escapei da morte tantas vezes, mas cada uma me assombra... Cada vez que uma bomba explode, tenho problemas para viver os dias seguintes por pelo menos um mês. Eu pensei que como eu crescesse seria mais fácil, mas não porque eu penso em meus entes queridos. Às vezes recorro à música, mas depois que o último bombardeio ocorreu em Karda, não consegui ouvir nada que pudesse me confortar. E fiquei triste com isso! Porque eu sempre tive certeza de que a música é e sempre será uma grande parte de quem eu sou. Mas agora estou de volta a tocar música e tocar com a orquestra.
KMT: Como sua orquestra foi afetada pelos eventos recentes?
RN: Claro que a orquestra é afetada. Lembro que um ensaio foi cancelado porque uma bomba explodiu perto do local onde ensaiamos, e 2 dos músicos foram feridos por estilhaços de vidro. Nós, como jogadores, somos afetados por tudo o que acontece. No verão, agora tocamos em um salão muito pequeno com ar condicionado ruim, e está 50 graus Celsius (120 F). Está muito quente, e por causa de todas as coisas que o Iraque está passando, ninguém se importa com como nós ensaiamos.
KMT: Parabéns por ter se tornado mãe recentemente! Isso mudou sua abordagem para fazer música?
RN: Tornar-se mãe é, devo dizer, uma experiência avassaladora, mas me deixou mais determinada a tocar música especialmente. Quando ligo o YouTube ou a TV e a 1ª ou 2ª sinfonia de Mahler ou Bruckner ou Mozart ou Beethoven ou qualquer coisa clássica aparece, minha filha ouve a peça inteira sem chorar ou outra coisa além de se concentrar na música. Ela tem 6 meses agora, e até agora ela assistiu a 2 shows do INSO.